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quarta-feira, 29 de junho de 2011

SUS X Meta de atendimento

Pela 1ª vez, SUS terá meta de atendimento

O governo federal vai fixar pela primeira vez metas específicas em saúde e irá punir quem não as cumprir, informa a reportagem de Valdo Cruz e Larissa Guimarães, publicada na edição desta quarta-feira da Folha.
A íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL (empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
O Ministério da Saúde irá mapear os serviços de saúde oferecidos em todo o país e definir metas específicas para cada região, de acordo com a realidade local.
Estados e municípios que não atenderem às definições do novo marco do Sistema único de Saúde (SUS) --certo número de cirurgias de catarata, por exemplo-- poderão ter verba bloqueada.
Por outro lado, os Estados e municípios mais eficientes poderão até ganhar o dobro de recursos.
Editoria de Arte/Folhapress

As cáries podem ser transmitidas de pessoa para pessoa

01/04/2011-08h30

Cáries podem ser contagiosas, diz pesquisa

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ANAHAD O'CONNOR
DO "NEW YORK TIMES"

Todos sabem que é normal pegar um resfriado ou uma gripe. Mas é possível pegar uma cárie? Pesquisadores afirmam que isso não só é possível, como também ocorre o tempo todo.
Renato Stockler/Folhapress
Cáries podem ser transmitidas de pessoa para pessoa
Cáries podem ser transmitidas de pessoa para pessoa
Embora a culpa recaia sobre os doces, as cáries são causadas principalmente por bactérias que se aderem aos dentes e desfrutam das partículas que sobraram da sua última refeição. Um dos subprodutos criados por elas é ácido, causando a degeneração dentária.
Assim como o vírus da gripe pode ser transmitido de pessoa para pessoa, as bactérias causadoras dessas cáries também podem. Uma das bactérias mais comuns é a "Streptococcus mutans". Desde recém-nascidas, as crianças são particularmente mais vulneráveis a ela, e estudos comprovam que a maioria delas contrai essa bactéria de pessoas próximas por exemplo, quando a mãe resolve experimentar a comida do filho para ver se não está muito quente, afirma Margaret Mitchell, de Chicago, dentista especializada em odontologia estética.
Diversos estudos também apontam que a transmissão pode ocorrer entre casais.
Mitchell já viu isso na prática. "Uma vez, uma paciente de aproximadamente 40 anos, que nunca havia tido uma única cárie, apareceu com duas cáries de uma vez, já começando a desenvolver uma gengivite", ela disse. Ela ficou sabendo que a paciente havia começado a namorar um rapaz que não ia ao dentista havia 18 anos e que tinha gengivite.
Para diminuir o risco, Mitchell recomenda o uso frequente de fio dental e bastante escovação, além de chicletes isentos de açúcar, pois estimulam a salivação, limpando as placas e as bactérias.
Resultado: as cáries podem ser transmitidas de pessoa para pessoa

terça-feira, 14 de junho de 2011

Abordagem histórica das precauções padrão

12 de Maio de 2011 20:18
Você conhece a história das precauções padrão? Elencamos alguns aspectos fundamentais da abordagem histórica. No período medieval, foram criados hospitais que tinham como principal objetivo alojar peregrinos, pobres, inválidos e doentes. Os cuidados eram exercidos por leigos e os doentes eram internados sem separação quanto à doença que apresentavam. Dessa forma, além da aglomeração indiscriminada de pessoas confinadas em um mesmo ambiente, verificava-se a precariedade das condições sanitárias, que incluía abastecimento de água que era de origem incerta, manejo inadequado de alimentos e camas compartilhadas por mais de dois pacientes (ARMOND; OLIVEIRA, 2005).

Antigamente as doenças eram atribuídas aos deuses, aos maus espíritos, a influência dos planetas e até mesmo ao sistema solar ou impurezas do ar, o conhecimento era restrito, e os seres humanos tinham uma vaga ideia de que poderiam adquirir doenças transmitidas por outras pessoas ou objetos. Nessa época, o doente era temido, e sua presença causava inquietação devido ao medo do perigo desconhecido.

Nas primeiras décadas do século XIV, os doentes eram impedidos de sair às ruas e tinham suas casas marcadas com sinais identificadores em suas portas. Verificava-se, dessa forma, a adoção de uma de uma política segregacionista, regulamentada pelos municípios, com intuito de evitar o contato dos doentes com a população. Entretanto, no século XV foram identificadas as formas de contágio de doenças (contágio direto, indireto e a distância) e foi descrita a epidemiologia das doenças epidêmicas da época (ARMOND; OLIVEIRA, 2005).

Considerando-se essas condições, a disseminação das doenças ocorria com facilidade devido à precariedade dos recursos humanos e da infraestrutura, bem como do desconhecimento dos micro-organismos e da susceptibilidade a desequilíbrios constantes da tríade epidemiológica: agente/hospedeiro e meio ambiente.
                                                                            
A partir do século XVII, com a transformação do hospital de um local de assistência aos pobres para uma instituição  de medicalização e cuidado, surgiram as primeiras práticas de controle de infecção. Tratavam-se apenas de práticas de controle do meio ambiente, relacionadas ao modelo de doença que predominava naquela época. A finalidade do hospital como um local de assistência aos doentes foi impulsionada pelo capitalismo industrial, diante da necessidade de redefinir a função dos hospitais, que eram de grande importância na recuperação da força de trabalho (LACERDA; ENGRY, 1997).

Apenas em 1863, na Inglaterra, a Enfermeira Florence Nightingale passou a valorizar as condições do paciente e do meio ambiente, descrevendo os cuidados e as estratégias relacionadas aos pacientes (individualização do cuidado) e ao meio (limpeza, aumento da distância entre leitos nas enfermarias). Tal iniciativa reduziu, de 42% para índices menores que 2% as taxas de mortalidade dos pacientes internados (NICHIATA; TAKAHASHI; CIOSAK, 2004).

Nessa mesma época, Florence Nightingale, por meio de observações de campo durante o atendimento aos feridos da Guerra da Crimeia, constatou que pacientes com doenças semelhantes melhoravam rapidamente se não fossem colocados no mesmo ambiente de outros portadores de doenças distintas (ARMOND; OLIVEIRA, 2005).

Assim, em 1877 foram publicadas nos Estados Unidos da América, as primeiras recomendações de isolamento – em forma de um manual que descrevia as recomendações de alojar os pacientes com doenças infecciosas separadamente daqueles não infectados.

Essa representou uma das iniciativas pioneiras no controle de infecções. Entretanto, a transmissão de infecção se manteve alta, pois não havia separação de pacientes infectados e poucos procedimentos assépticos era adotados (CDC, 1996).    Em 1910, as práticas de isolamento foram alteradas, com a introdução do sistema de pequenos ambientes denominados cubículos (ou pequenos cômodos), com várias camas.

Além disso, o uso de capote pelos profissionais, a lavagem das mãos com soluções antissépticas após o contato com os pacientes e a desinfecção de objetos contaminados ou utilizados também eram recomendados. Essas recomendações eram baseadas em conhecimentos racionais de higiene da época, cujo objetivo era o de prevenir a disseminação de micro-organismos patogênicos para outros pacientes e profissionais. Esse conjunto de medidas era denominado “barreira de enfermagem e sistema de cubículos” (CDC, 1996).     

Em 1970, o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), publicou o manual detalhando a técnica de isolamento para ser empregada em hospitais. Esse manual foi revisado em 1975, ampliando sua utilização também para hospitais gerais e de pequeno porte ou com recursos limitados. O referido manual introduziu o conceito de isolamento estrito, respiratório, protetor, precauções entéricas, precauções com ferida e pele, precauções com drenagem de sangue. Dessa forma, as medidas a serem adotadas pelo profissional de saúde foram normatizadas, pois, havia um agrupamento das doenças em relação ao modo de transmissão (CDC, 1996).  

Por mais que as medidas fossem simples de serem seguidas, algumas vezes havia exagero na adoção das precauções, em função da diversidade dos modos de transmissão das doenças. Porém, apesar das medidas serem racionais, não possuíam eficácia comprovada, no entanto nessa época mostraram-se ineficientes (CDC, 1996).

No início da década de 1980, a infecção hospitalar passou a ser vista como endêmica, tendo como um dos seus agravantes o aumento dos micro-organismos resistentes aos antibióticos, os quais não eram contemplados nas categorias de isolamento existentes (CDC, 1996). 

Já em 1985, diante da epidemia de Aids, as práticas de isolamento nos EUA forma novamente alteradas, com a introdução de nova estratégia de precaução e isolamento e do conceito de precauções universais (PU). Essas visavam reduzir o risco de transmissão do agente infeccioso aos profissionais de saúde, principalmente os transmitidos pelo sangue (CDC, 1996).

Essas precauções incluíam o uso de barreiras (luvas, avental, óculos e máscara), lavagem das mãos imediatamente após a retirada das luvas, máscara e prevenção de acidentes de trabalho. A aplicação das precauções universais foi ampliada a todos os pacientes, independentemente de seu diagnóstico. No entanto, essas precauções não eram abrangentes, não consideravam alguns fluidos corporais como fezes, urina, secreções nasais, escarro, suor, lágrimas e vômitos, exceto quando apresentavam sangue visível.

Em 1987, o Departamento de Controle de Infecção do Centro Médico Harborview em Seattle, Washington, e da Universidade da Califórnia, em San Diego, estabeleceram um novo sistema de isolamento alternativo ao CDC, chamado de Isolamento de Substâncias Corporais (ISC). Esse evidenciava o isolamento de todos os fluidos corporais potencialmente infectados (sangue, fezes, urina, escarro, saliva, drenagem de ferida e outros fluidos corporais), por meio de uso de luva para lidar com todos os pacientes, independente do estado infeccioso (CDC, 1996).

Apenas em 1996 é que surgiu o termo ‘precauções padrão (PP)’,  ocasião em que foi construído um novo manual que sintetizava as proteções universais e o isolamento de substâncias corporais em um conjunto único de precauções a serem adotadas para prestar cuidados a todos os pacientes, visando à redução das infecções hospitalares, do risco de transmissão de micro-organismos resistentes e das doenças ocupacionais (ARMOND; OLIVEIRA, 2005).

REFERÊNCIAS

ARMOND, G. A.; OLIVEIRA, A. C. Infecções Hospitalares: Epidemiologia, Prevenção e Controle. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005, cap.1, parte IX, p. 457-470.

CDC, Center For Disease Control And Prevention. Part I. Evolution of Practices. Issue in healthcare settings. 1996. Disponível em: <www.cdc.gov>. Acesso em: 12 mai. 2011.

NICHIATA, L.Y. I. GIR, TAKAHASHI, A; CIOSAK, S. I. Evolução dos Isolamentos em doenças transmissíveis: os saberes para a prática contemporânea. Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, v. 38, n. 1, p. 61-70, mar. 2004.

Fonte:
 Biana Domiciana Matucheski do Programa Proficiência - COFEN.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

MANUAL DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS E ÁGUA

MANUAL DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS E ÁGUA
Escherichia coli O157:H7 - enterohemorrágica (EHEC)



1. Descrição da doença
A Escherichia coli sorotipo O157:H7, tida como uma bactéria emergente, causa um quadro agudo de colite hemorrágica, através da produção de grande quantidade de toxina, provocando severo dano à mucosa intestinal. O quadro clínico é caracterizado por cólicas abdominais intensas e diarréia, inicialmente líquida, mas que se torna hemorrágica na maioria dos pacientes. Ocasionalmente ocorrem vômitos e a febre é baixa ou ausente. Alguns indivíduos apresentam somente diarréia líquida. A doença é auto-limitada, com duração de 5 a 10 dias. Aproximadamente 15% das infecções por E. coli O157:H7, especialmente em crianças menores de 5 anos e idosos, podem apresentar uma complicação chamada Síndrome Hemolítica Urêmica (SHU) , caracterizada por destruição das células vermelhas do sangue e falência renal que pode ser acompanhada de deterioração neurológica e insuficiência renal crônica. Embora a SHU possa ser determinada por outros patógenos, nos Estados Unidos, a maioria dos casos se deve à infecção pela E. coli O157:H7 e ela é também a principal causa da falência renal aguda em crianças. Estima-se a ocorrência de 73.000 casos de infecção, 2.100 hospitalizações e 61 casos fatais( letalidade de 3% a 5%), anualmente naquele país. Na Argentina a Síndrome Hemolítica Urêmica em crianças menores de 5 anos é endêmica, contudo não há estudos que estabeleçam ainda uma nítida relação entre a síndrome e a bactéria e os alimentos, neste país.
No Brasil, não há dados sistemáticos que possam indicar a situação da síndrome entre nós. No Estado de São Paulo, um estudo vem sendo conduzido pelo CVE para determinar a situação dessa síndrome no Estado e para estabelecer um ponto de partida para a introdução do sistema de vigilância da bactéria e da SHU.
A infecção por E. coli O157:H7 também pode desencadear um quadro de Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT), caracterizada por anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia, manifestações neurológicas, insuficiência renal e febre. Enquanto que na SHU a insuficiência renal é mais freqüente e severa, na PTT predominam as manifestações neurológicas, embora estes não sejam critérios de distinção entre estas síndromes.



2. Agente etiológico e toxina
A Escherichia coli é um bacilo gram-negativo componente da flora normal do intestino humano e de animais saudáveis, impedindo o crescimento de espécies bacterianas nocivas e sintetizando apreciável quantidade de vitaminas (K e do complexo B). Atualmente, existem 6 grupos reconhecidos de E. coli patogênicas, referidas como EEC, que causam gastroenterites em humanos: as enteropatogênicas, as enterotoxigênicas, as enteroinvasivas, as enterohemorrágicas, as enteroagregativas e as difuso-adetentes. No grupo das enterohemorrágicas (EHEC), a E. coli O157:H7 é o sorotipo mais comum e mais estudado. Os conhecimentos atuais sugerem que, ao longo do tempo, a E. coli foi infectada por um vírus que inseriu seu DNA no cromossomo da bactéria e um de seus genes passou a conter a informação para a produção de toxina "Shiga-like". Estas toxinas, também chamadas verotoxinas, estão intimamente relacionadas, em estrutura e atividade, à toxina produzida pela Shigella dysenteriae. A combinação de letras e números no nome da bactéria se refere aos marcadores específicos encontrados em sua superfície e isto as distingue de outros sorotipos de E. coli. A Escherichia coli O157:H7 foi reconhecida, pela primeira vez, como causa de enfermidade nos Estados Unidos em 1982, durante um surto de diarréia sanguinolenta severa, tendo sido isolada em hambúrgueres contaminados. Desde então, a maioria das infecções são provenientes da ingestão de carne moída mal cozida. A patogênese da infecção tanto pela E. coli O157:H7 quanto por outras E. coli enterohemorrágicas não está completamente compreendida. As propriedades virulentas envolvidas são distintas daquelas de outros grupos de E. coli.



3. Modo de transmissão
Na maioria dos surtos descritos, a transmissão foi veiculada através de alimentos de origem bovina, tendo sido a carne moída, cru ou mal passada, implicada em quase todos os surtos documentados e mesmo em casos esporádicos. A E. coli O157:H7 pode ser encontrada em algumas fazendas de gado e ser isolada de bovinos saudáveis. A carne pode ser contaminada durante o abate ou processamento inadequados, quando as bactérias intestinais contaminam a carcaça ou quando a carne é moída. A ingestão de leite cru também tem sido associada a surtos, através da contaminação do úbere das vacas ou dos equipamentos de ordenha com conteúdo fecal. A carne contaminada, especialmente a carne moída, tem aparência e cheiro normais, e ao comê-la, sem estar devidamente cozida, pode haver a infecção. Embora a quantidade de microrganismos necessária para causar a doença não seja conhecida (dose infectante), suspeita-se que seja similar à da Shigella sp (10 microrganismos). Entre outras fontes de infecção conhecidas estão os brotos de alfafa, alface, salame, leite e sucos não pasteurizados, e nadar ou beber água contaminada por esgoto (não tratada). A transmissão pessoa à pessoa também é relatada, presumivelmente, através da via oral-fecal, se os hábitos de higiene ou lavagem de mãos não forem adequados.



4. Período de incubação
Em surtos, em que uma fonte comum de veiculação foi determinada, a média do período de incubação variou de 3,1 a 8 dias. Em surtos em enfermarias e casas de custódia, o período de incubação tendem a ser mais longo, pois alguns casos são, provavelmente, o resultado da difusão pessoa à pessoa, através de uma pequena inoculação.



5. Suscetibilidade e resistência
Acredita-se que qualquer pessoa seja suscetível à colite hemorrágica. Uma única cepa da E. coli O157:H7 pode produzir o espectro completo da doença, incluindo diarréia sem sangue, diarréia com sangue, SHU e PTT. Entretanto a probabilidade de complicações pode ser determinada por fatores do hospedeiro, por características da cepa ou da dose infectante. Os fatores de risco relatados para o desenvolvimento da SHU ou PTT entre os pacientes com infecção por E. coli O157:H7 incluem retardo mental, expressão dos antígenos P pelas células vermelhas do sangue, diarréia hemorrágica, febre, contagem de leucócitos precocemente elevada na doença diarreica, tipo de toxina da cepa infectante, uso de espasmolíticos (antidiarréicos) e terapia antimicrobiana. As crianças menores de 5 anos e idosos têm maiores chances de desenvolver a forma aguda da doença e a SHU. Outros fatores de risco aventados são o uso recente de antimicrobiano, gastrectomia prévia e exposição ocupacional ao gado e fezes ou carne crua.



6. Conduta médica e diagnóstico
Surtos de Escherichia coli O157:H7 são geralmente detectados a partir do diagnóstico de casos de SHU ou TTP, ou de um grande número de pessoas hospitalizadas, ao mesmo tempo, com doença diarreica severa. O diagnóstico é feito pelo isolamento da E. coli O157:H7 ou pela detecção de verotoxinas livres em fezes diarreicas e nos alimentos suspeitos.
A. anamnese – é dirigida buscando-se verificar a ocorrência de diarréia prodrômica ao aparecimento da SHU, os tipos de alimentos ingeridos, tempo de ingestão e aparecimento da doença. Investiga-se a tendência dos casos ocorrerem em grupos, em comunidades ou em famílias e fontes comuns de infecção, além da caracterização dos sinais e sintomas apresentados. As manifestações clínicas da doença não são específicas e todas as pessoas que têm diarréia com sangue deverão ter suas fezes testadas para E. coli O157:H7. Na forma aguda, a doença começa com diarréia sem sangue e severas cólicas abdominais. As fezes tornam-se hemorrágicas no segundo ou terceiro dia da doença, com a quantidade de sangue variando de vestígios até fezes francamente sanguinolentas. As fezes hemorrágicas continuam por 2 a 4 dias, e a doença se estende por mais 6 ou 8 dias. Ocorre vômito em cerca da metade dos pacientes. A febre ocorre em menos de 1/3 dos pacientes, geralmente, não é alta e acomete principalmente as pessoas com doença mais severa, resultando em hospitalização. O tempo de duração da diarréia, número de evacuações por dia e proporção de pacientes com cólicas abdominais, vômitos e febre foram menores em pacientes com diarréia sem sangue, apresentando doença menos severa. Infecções assintomáticas também têm sido relatadas.
B. exame laboratorial Específico – é a investigação da bactéria nas fezes do paciente através da coprocultura. A maioria dos laboratórios não testam, rotineiramente, as amostras para E. coli O157:H7, assim é importante pedir que a amostra de fezes seja processada em ágar sorbitol-MacConkey (SMAC) para este microrganismo. Alternativamente, as fezes podem ser testadas diretamente para a presença de verotoxinas
C. exames nos alimentos suspeitos – são importantes para a detecção da bactéria e da toxina, auxiliando no diagnóstico da doença, e para o desencadeamento de providências sanitárias e medidas de prevenção. A confirmação pode ser obtida através do isolamento da E. coli do mesmo sorotipo no alimento suspeito e pela detecção de toxina.
D. diagnóstico diferencial – da colite hemorrágica deve ser feito com as demais intoxicações e infecções de origem alimentar tais como: salmonelas, Shigella dysenteriae, E. coli enteropatogênicas, outras enterobacteriaceas, Vibrio parahaemolyticus, Yersínia enterocolitica, Pseudomonas aeruginosa, Aeromonas hydrophila, Plesiomonas shigelloides, Campylobacter jejuni, Vibrio cholerae (O1 e não-O1), V. vulnificus, V. fluvialis. A Síndrome Hemolítica Urêmica e a Púrpura Trombocitopênica Trombótica deve ser diferenciada de Lúpus Eritematoso Sistêmico, Síndrome de Sjogren, Von Willebrand, infecções por bartonelose, malária, babesiose, Clostridium wellchi, veneno de cobra, de aranha, etc.



7. Tratamento
Indica-se, como suporte geral, o uso de glicocorticóides e hidratação. A maioria das pessoas se recupera sem antibióticos ou outro tratamento específico, em 5 a 10 dias. Em casos mais graves, pode ser necessário transfusão de sangue e diálise, no caso de falência renal. Estudos têm mostrado que os agentes antidiarréicos deveriam ser evitados e que os antibióticos não têm melhorado o curso da doença, sendo que alguns podem agravar a doença renal. A Síndrome Hemolítica Urêmica normalmente é uma condição ameaçadora à vida e exige cuidados intensivos. Mesmo assim, a letalidade tem variado entre 3% e 5%.



8. Complicações
Pessoas que têm somente diarréia normalmente recuperam-se completamente. Alguns pacientes tem desenvolvido a SHU e TTP.Na SHU a falência renal é mais severa, enquanto que na TTP o envolvimento neurológico é mais comum e importante, porém estes sintomas não distinguem claramente estas entidades. A insuficiência renal se manifesta por oligúria, hipertensão, azotemia, proteinúria leve, hematúria, micro ou macroscópica, e cilindrúria. Apesar da maioria dos pacientes com SHU apresentarem diarréia, esta não é sempre mencionada na maioria das revisões de casos de TTP. Até 15% das vítimas de colite hemorrágica podem desenvolver SHU. Aproximadamente 1/3 das pessoas com SHU tem função renal anormal depois de muitos anos, e alguns requerem diálise a longo prazo. Outros 8% dos casos de SHU podem apresentar seqüelas permanentes como pressão alta, crise convulsiva, cegueira, paralisia, e os efeitos decorrentes da remoção de parte de seu intestino. Outras complicações da infecção por E. coli O157:H7 incluem intussuscepção, dilatação anal evidente e morte. A TTP em idosos pode ter uma taxa de mortalidade superior a 50%.



9. Distribuição e freqüência da doença
Evidências sugerem que, a partir da década de 80, as infecções por E. coli O157:H7, na América do Norte, estão aumentando, porém os dados ainda são limitados e de difícil interpretação, já que o número de laboratórios que isolam este organismo tem crescido. Além disso, dados de vários países indicam que a incidência da SHU está aumentando, sugerindo que a infecção pela E. coli O157:H7 está aumentando também. Os picos de casos de infecção por E. coli O157:H7, na América do Norte, acontecem nos meses de verão. Muitos isolamentos da E. coli O157:H7 têm sido relatados no EUA, Canadá e Reino Unido, e o organismo tem sido mais freqüentemente isolado nos países desenvolvidos. Outros países que relataram o isolamento da E. coli O157:H7 em humanos foram a Irlanda, Bélgica, Alemanha, Itália, Checoslováquia, Austrália, Japão, China e África do Sul. Surtos e casos esporádicos da infecção por E. coli O157:H7 parecem ser mais freqüentes no Canadá do que nos EUA, e neste último são mais comuns no Noroeste do que no sul. Estudos sugerem que estas diferenças podem estar relacionadas com níveis de contaminação dos animais ou diferenças nos métodos de processamento da carne. Estudos no Canadá e EUA, realizados entre 1983 e 1987, mostraram que a E. coli O157:H7 foi a principal causa de diarréia com sangue, e dentre as bactérias mais isoladas ficou em segundo ou terceiro lugar, estando à frente da Shigella. Fora da América do Norte, apenas o Reino Unido tem relatado taxas expressivas de isolamento da E. coli O157:H7.
A infecção humana por E. coli O157:H7 e outras STEC (E. coli produtora de toxina tipo Shiga) tem sido registradas em mais de 30 países de 6 continentes. A maior incidência de SHU é na Argentina onde a enfermidade é endêmica. O Comitê de Nefrologia da Sociedade Argentina de Pediatria registra aproximadamente 250 casos novos por ano. Em 1998 a incidência foi de 8.2 por 100.000 em crianças menores de 5 anos.
Mais de 6.000 casos foram registrados desde 1965 até o presente. A grande maioria em crianças menores de 5 anos, com maior freqüência entre 6 e 24 meses. Atinge igualmente ambos os sexos e a maioria das crianças pertencem à classe média; são crianças bem nutridas e que vivem em condições higiênico - sanitárias aceitáveis. Nestas crianças a diarréia que caracteriza o período prodrômico é o primeiro episódio de sua vida, e somente 3% teve diarréia anteriormente. Os casos se registram em toda a Argentina, com maior freqüência no centro e sul, durante os meses quentes.
No Brasil, a primeira cepa de E. coli O157:H7 foi isolada e identificada em Parelheiros, no município de São Paulo, a partir de uma amostra de água de poço, em uma chácara, não tendo sido nunca identificada em material humano. Há o registro de E. coli O 157:H7 em um paciente aidético, de 1992, onde não foi possível estabelecer relação com alimentos ou origem da infecção. Não há dados sistematizados sobre a E. coli O157:H7 no Brasil e nem sobre a SHU. Um estudo vem sendo conduzido no Estado de São Paulo para conhecer a situação do patógeno e da síndrome e estabelecer pontos de referência para a implantação de um sistema adequado de vigilância e prevenção. Da avaliação de diagnósticos registrados pela AIH/DATASUS/MS, no período de 1998 a Julho de 2.000, no Estado de São Paulo, 12 casos são de SHU, com história anterior de diarréia e de possível associação com a E. coli O157 (Ver Estudo da Ocorrência da Síndrome Hemolítica Urêmica no Estado de São Paulo). Na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, um estudo retrospectivo de casos de SHU ocorridos no Hospital Universitário, no período de março de 1987 a agosto de 1999 apontou a existência de 25 casos da doença em crianças, com idade variando entre 2 a 57 meses (trabalho enviado para publicação no Jornal Brasileiro de Nefrologia).



10. Condutas: epidemiológica, sanitária e educativa
notificação do caso - toda ocorrência de agravos inusitados ou de surtos deve ser notificada às autoridades de vigilância epidemiológica, mesmo que a doença suspeita não conste da lista de notificação obrigatória. Este procedimento está bem determinado pela Portaria MS no. 993, de 04/09/2000, e pela Lei estadual no. 10.083, de 23/09/98. A ocorrência de Síndrome Hemolítica Urêmica deve ser notificada para que investigações epidemiológicas sejam desencadeadas para estabelecimento das causas prováveis, das associações com alimentos, e para que medidas de prevenção sejam tomadas.
A detecção do patógeno E. coli O157:H7 deve ser notificada, assim como o material de laboratório deverá ser encaminhado para o Instituto Adolfo Lutz, para outros testes de confirmação ou subtipagem (Pulsed-field). Os óbitos por doença diarreica aguda devem ser imediatamente notificados à vigilância epidemiológica. As notificações devem ser feitas às equipes de vigilância Regional, Municipal, ou então, à Central de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo, - Disque CVE, que funciona 24 horas para atender as notificações e orientar tecnicamente os profissionais de saúde com relação a todas as doenças de notificação compulsória, assim como, para acionar as equipes de vigilâncias regionais e municipais. O telefone é 0800-55-5466; 2) A investigação epidemiológica será realizada pela equipe local ou regional, junto ao paciente, familiares e outros. Para isto deverá solicitar uma ficha junto à Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar do CVE, onde serão coletados os dados do paciente, história anterior de diarréia, alimentos consumidos e outros fatores relacionados. Se a equipe regional ou municipal não tiver condições para investigar o caso, deverá solicitar ajuda à Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar do CVE; 3) medidas sanitárias e educativas - encontradas as causas relacionadas com alimentos, deverá ser acionada a Vigilância Sanitária para as investigações que se fizerem necessárias em relação aos alimentos suspeitos. Cuidados com os familiares e comunicantes são importantes para evitar possível transmissão pessoa à pessoa e para se obter informações sobre diarréia e outras complicações. Estudos adicionais poderão ser necessários, a partir da notificação de cada caso. A família deve ser orientada pelo serviço médico a guardar os alimentos suspeitos, devidamente acondicionados e em geladeira, para possibilitar a investigação epidemiológica e sanitária.
A E. coli O157:H7 é uma preocupação de saúde pública importante principalmente, enquanto persistir seu potencial de contaminação da carne. Medidas preventivas podem reduzir o número de gado albergando a bactéria e a contaminação da carne durante o abate e o processamento. Medidas educativas para a prevenção da infecção por E. coli O157:H7 incluem a orientação de se cozinhar completamente toda a carne, principalmente a carne moída, hambúrgueres e almôndegas. Nos EEUU, foi introduzido como medida de controle o uso do termômetro digital de leitura instantânea que deve ser inserido em várias partes na carne, inclusive nas mais espessas e profundas, garantindo-se pelo menos 70° C, para assegurar seu completo cozimento. Pode-se diminuir o risco de enfermidade não comendo almôndegas, hambúrgueres e carne moída que ainda estejam rosados no interior; evitando-se a contaminação na cozinha durante o manuseio e preparo da carne, mantendo a carne crua separada de comidas prontas para consumo, e outros procedimentos que possam espalhar as bactérias. Lavar as mãos, a pia, e os utensílios, com água quente e sabão, depois do contato com carne crua. Beber somente leite e sucos pasteurizados. Frutas e vegetais devem ser bem lavados, especialmente aqueles que não serão cozidos. Beber somente água que tenha sido tratada com cloro ou outros desinfetantes efetivos e evitar engolir água de lago ou piscina durante atividades de recreação. Lavar as mãos cuidadosamente com sabão depois de evacuar, para reduzir o risco de propagar a infecção. Especial cuidado deve ser dado ao manuseio de pessoas com diarréia. Qualquer um com doença diarreica deve evitar nadar em piscinas públicas ou lagos, compartilhar banheiros e preparar comida para outras pessoas. A identificação de falhas no cozimento tem freqüentemente requerido uma cuidadosa revisão dos procedimentos, e até a repetição do processo de cozimento sob observação. Em surto transmitido por água, deve-se certificar de que a água seja devidamente tratada. A rotina hospitalar e laboratorial de procedimentos de controle da infecção deve ser adequada para impedir a transmissão na maioria das circunstâncias clínicas.



11. Conduta laboratorial
ao contrário da maioria das E.coli, a E.coli O157:H7 não fermenta rapidamente o sorbitol e não produz b -glucuronidas, não cresce bem a temperaturas superiores a 41°C; com isso ela não pode ser identificada por procedimentos padrões para a enumeração de coliformes fecais, em alimentos e água. A E.coli O157:H7 forma colônias em meio ágar que são seletivos para E.coli. Há problema com altas temperaturas necessárias para impedir o crescimento de outros microrganismos (44 – 45,5°C), pois ao contrário da maioria das demais E.coli, a E.coli O157:H7 não suporta tais temperaturas. O uso de provas de DNA, para detectar genes responsáveis pela produção das verotoxinas (VT1 e VT2) é o método mais sensível existente. No caso de exames laboratoriais dos alimentos, as amostras coletadas devem ser transportadas sob refrigeração.



12. Bibliografia consultada e para saber mais sobre a doença



  1. AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Control of Communicable Diseases Manual. Abram S. Benenson, Ed., 16 th Edition, 1995
  2. BARCELOS, A.L. et al. Síndrome hemolítico-urêmica: análise retrospectiva de 25 casos. Serviço de Nefrologia e Serviço de Pediatria. Hospital Universitário de Santa Maria/UFSM, ano 2000 (trabalho enviado para a publicação no Jornal Brasileiro de Nefrologia).
  3. CDC/HEALTH TOPICS A-Z – Escherichia coli O157:H7 Internet http://www.cdc.gov
  4. FDA/CFSAN Bad Bug Book – Escherichia coli O157:H7 Internet http://www.fda.gov
  5. GRIFFIN, P.M.; TAUXE, R.V. The Epidemiology of Infections Caused by Escherichia coli O157:H7, Other Enterhemorrhagic E. coli, and the Associated Hemolytic Uremic Syndrome. Epidemiologic Reviews 1991; 13: 60-98.
  6. OPAS/OMS - Vigilancia del Sindrome Urémico Hemolítico. Documento técnico referente ao protocolo firmado entre países do Mercosul (OPAS/OMS, CDC/Atlanta e INEI-ANLIS "Dr. Carlos G. Malbran"/Ar), 1999.



Texto elaborado pela

Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar
Centro de Vigilância Epidemiológica/CVE/SES-SP
E-mail para contato - dvhidri@saude.sp.gov.br
Atualização em 26/11/2000


segunda-feira, 6 de junho de 2011

30 Anos HIV

 Resumo publicado na Morbidity and Mortality Weekly Report (MMWR) sobre o marco de 30 anos da epidemia de HIV/aids.
O texto integral está disponível em http://www.cdc.gov/mmwr/pdf/wk/mm6021

"June 3, 2011 / 60(21);689
 On June 5, 1981, MMWR published a report of Pneumocystis carinii pneumonia in five previously healthy young men in Los Angeles, California; two had died (1). This report later was acknowledged as the first published scientific account of what would become known as human immunodeficiency virus (HIV) and acquired immunodeficiency syndrome (AIDS). Thirty years after that first report, the most recent estimate is that 33.3 million persons were living with HIV infection worldwide at the end of 2009 (2).
 In the United States, CDC estimates that 1,178,350 persons were living with HIV at the end of 2008 (3), with 594,496 having died from AIDS since 1981 (4)."

Tradução Livre:
03 de junho de 2011 / 60 (21); 689
 Em 05 de junho de 1981, a MMWR publicou um artigo sobre a ocorrência de pneumonia por Pneumocystis carinii em cinco jovens previamente saudáveis ​​em Los Angeles, Califórnia; dois morreram (1). Este artigo mais tarde foi reconhecido como sendo o primeiro relato científico publicado do que se tornaria conhecido posteriormente como vírus da imunodeficiência humana (HIV) e síndrome da imunodeficiência adquirida (aids). Trinta anos depois deste primeiro artigo, a estimativa mais recente é que existiam 33,3 milhões de pessoas vivendo com HIV/aids em todo o mundo no final de 2009 (2).
 Nos Estados Unidos, os CDC estimam que 1.178.350 pessoas estavam vivendo com HIV/aids no final de 2008 (3), com 594.496 que morreram de aids desde 1981 (4).
Referências:
1. CDC. Pneumocystis pneumonia---Los Angeles. MMWR 1981;30:250--2.
 2. Joint United Nations Programme on HIV/AIDS. Global report: UNAIDS report on the global AIDS epidemic 2010. Geneva, Switzerland: UNAIDS; 2010. Available at http://www.unaids.org/globalreport/global_report.htm. Accessed May 26, 2011.
 3. CDC. HIV surveillance---United States, 1981--2008. MMWR 2011;60:689--93.
 4. CDC. Diagnoses of HIV infection and AIDS in the United States and dependent areas, 2009. HIV surveillance report, vol. 21. Atlanta, GA: US Department of Health and Human Services, CDC; 2010. Available at http://www.cdc.gov/hiv/surveillance/resources/reports/2009report/index.htm. Accessed May 26, 2011.
 5. Office of National AIDS Policy. National HIV/AIDS strategy. Washington, DC: Office of National AIDS Policy; 2010. Available at http://www.whitehouse.gov/administration/eop/onap/nhas. Accessed May 26, 2011

sábado, 4 de junho de 2011

Anvisa Orienta...

03/06/2011 - 18h24
Anvisa pede que brasileiros evitem comer vegetais crus na Alemanha
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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Após a Europa ter confirmado ontem (2) a 18ª morte por complicações causadas pela Escherichia coli (E. coli), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Ministéio da Saúde pediram que os brasileiros que viajem à Alemanha evitem consumir vegetais crus, em especial pepinos, tomates e alfaces.
Em nota, a Anvisa declarou que " as informações estão sendo acompanhadas em tempo real pelas autoridades brasileiras" e, até o momento, "não serão adotadas medidas restritivas". Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), O Brasil não importa dos países europeus nenhum dos três tipos de alimentos indicados como fontes mais prováveis de contaminação.
Na terça-feira (31), quando ainda acreditava-se que a fonte do surto de E. coli fossem os pepinos exportados por agricultores espahnóis à Alemanha, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) informou à Folha que o Brasil importa apenas pepino na modalidade em conserva da Espanha.
Segundo o órgão brasileiro, entre janeiro e abril desse ano foram comprados mais de oito mil quilos do produto. No ano passado, o Brasil importou mais de 12 mil quilos de pepino em conserva.
TRANSMISSÃO
Os alertas do governo brasileiro chegam no mesmo dia em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou que a letal bactéria intestinal E. coli Enterohemorrágica (EHEC) pode ser transmitida de pessoa para pessoa, seja através dos sedimentos ou por via oral.
"Este tipo de transmissão nos preocupa e, por esta razão, queremos que se reforcem as mensagens relativas à higiene pessoal", declarou a epidemiologista da OMS, Andrea Ellis.
Ellis afirmou que, neste caso, é crucial lavar bem as mãos após ir ao banheiro e antes de tocar nos alimentos.
A epidemiologista confirmou ainda que, por enquanto, todos os casos estão relacionados de alguma forma com o norte da Alemanha --mantendo a exposição à bactéria limitada a essa área.
O norte da Alemanha concentra 95% dos casos --1.213 de E. coli Enterohemorrágica (EHEC), com seis mortes; e 520 da Síndrome Hemolítico-Urêmica (SUH), com 11 mortes. A SUH é um sintoma mais grave da doença, causado por uma toxina específica desta variedade de E.coli que destrói hemácias (células vermelhas do sangue) e provoca insuficiência renal.
Há ainda uma vítima na Suécia, que morreu após viagem ao norte alemão, e outros 610 contaminados em 11 países.
O EHEC tem um período de incubação médio de três a quatro dias e a maioria de pacientes se recupera em dez dias. Mas em uma pequena parte dos pacientes --principalmente crianças e idosos-- a infecção pode levar ao SUH, com um risco de mortalidade entre 3% e 5%, segundo dados da OMS.
O SUH é a causa mais comum de insuficiência renal grave em crianças e pode causar complicações neurológicas em até 25% dos pacientes e deixar sequelas.
ORIGEM
Em entrevista coletiva, Ellis mencionou que um aspecto incomum deste surto é o grande número de casos de SUH e também o fato de que os adultos sejam os mais afetados, quando normalmente não é o grupo de maior risco.
Além disso, comentou que o maior impacto está entre as mulheres por supostamente tenderem a consumir mais vegetais crus em saladas, e acredita-se que é ali onde está a origem da bactéria.
"O mais provável é que neste caso o modo de transmissão seja através dos alimentos, mas não sabemos qual. E isto também não significa que não possa ser outra coisa", enfatizou, após explicar que a água, o contato com animais ou com pessoas infectadas também são outros modos conhecidos de transmissão.
De outro lado, precisou que a variante da bactéria letal que circula na Alemanha tinha sido vista já no ser humano, mas sempre de maneira esporádica e nunca em situações de epidemia.
A especialista reconheceu que "há algo nesta bactéria que a torna
particularmente virulenta", mas ainda não se decifrou o que é.
ANTIBIÓTICOS
Ellis ressaltou ainda que a OMS desaconselha a administração de antibióticos em pacientes diagnosticados com a bactéria, porque podem piorar a situação e aumentar as chances de uma cepa resistente a medicamentos.
Já os antidiarreicos desaceleram o trânsito intestinal, o que faz com que a absorção da toxina liberada pelo E. coli seja maior.
"Se houver casos particulares nos quais o médico familiar achar apropriado [usar antibióticos], então provavelmente há boas razões para isso. Mas, no geral, não queremos que as pessoas usem antibióticos que estão em casa sem uso", disse Ellis.
Questionada se este surto epidêmico é passageiro, Ellis respondeu apenas que é muito cedo para afirmar.