A ESTERILIZAÇÃO DAS PEÇAS DE MÃO NA PRÁTICA ODONTOLÓGICA.
INTRODUÇÃO
O tema biossegurança é fundamental nos dias atuais, mas essa preocupação existe desde a antiguidade. As formas de disseminação e controle das doenças sempre foi um desafio para as ciências e medicina. Os microorganismos causadores das infecções existem e proliferam no meio ambiente muito antes do surgimento do ser humano.[7] No exercício da profissão odontológica, uma série de microrganismos infecciosos pode ser transmitida para pacientes e profissionais(4).
Nos procedimentos clínicos em odontologia, o uso dos instrumentos rotatórios e ultra-sônicos favorece a ocorrência de respingos e formação de aerossol. [3].De todos os artigos utilizados na prática odontológica, talvez aquele que apresenta a maior dificuldade para ser reprocessado adequadamente seja a caneta de alta rotação.[2]., pois não podem ser desmontadas para serem limpas e esterilizadas.
Dois fatores favorecem a adesão de microrganismos nas partes internas da caneta. Por ter complexo design e alta velocidade de rotação, sangue, saliva e debris de tecido dentário e restaurações podem entrar no seu mecanismo. Estando contaminados por microrganismos, esses podem ficar retidos e serem transferidos para os pacientes subseqüentes[5][6]. O outro fator relevante é a possibilidade de retração de fluidos contaminados quando a rotação é cessada.
Com a evolução tecnológica dos equipamentos odontológicos paradoxalmente, houve um aumento do risco de contaminação cruzada. A introdução de canetas com motor mecânico na década de 20 em substituição às acionadas por pedal aumentou a geração de aerossóis e conseqüentemente em 1931, foi verificada que a incidência de infecções transmitidas por vias aéreas superiores era maior na prática odontológica. As canetas com motor de alta rotação, introduzidas na década de 50, aumentaram ainda mais a aerossolização [4]
Havia a recomendação de desinfecção das peças de mão, devido a não resistência das mesmas ao processo de esterilização pelo calor, no entanto esse procedimento não garante que o artigo esteja seguro para utilização no paciente, pois é realizada somente na parte externa das mesmas.[8][10].
A literatura, de uma forma geral, sempre que aborda aspectos do reprocessamento de materiais utilizados na cavidade bucal, acaba preconizando o máximo rigor, ou seja, a esterilização. Isto se justifica pela particularidade da prática odontológica onde é difícil garantir que um artigo semi-crítico ou até não crítico, não venha a se transformar em crítico durante o procedimento [7]
Desde 1993, o CDC (Center of Disease Control) publicou recomendações para o controle de infecção em Odontologia, entre elas, a autoclavação das peças de mão e a incorporação de válvulas anti-refluxo para prevenir a aspiração de material orgânico.[6]
Também recomendou o acionamento do sistema para liberação de água após o uso para lavagem das tubulações internas do equipamento.
Estudos sobre canetas de alta rotação têm confirmado o potencial de retração de fluidos bucais para os seus compartimentos internos. Esses fluidos podem ser expelidos na cavidade bucal durante o uso subseqüente da caneta de alta rotação. [8]. Diante disto é essencial que todo o conjunto seja adequadamente limpo e esterilizado antes de ser reutilizado.[3]
A contaminação das tubulações de água pode se dar pela aspiração de fluidos bucais, resultantes de uma pressão negativa de alguns sistemas do equipamento odontológico, no momento da desaceleração dos motores .Os microrganismos podem multiplicar-se e ser isolados, tanto livres (planctônicos), na luz das tubulações ou formando biofilmes aderidos às paredes internas. Têm sido freqüentemente isoladas bactérias do gênero Pseudomonas, Legionella, Mycobacterium, dentre outras[10]
Bactérias oportunistas como Legionella pneumophilla (responsável por um subtipo de pneumonia) e Pseudomonas aeruginosa podem estar presentes na água utilizada no tratamento intra-oral podendo gerar contaminação cruzada,principalmente em imunodeficientes[5]
Fatores como número de colônias de microorganismos e tempo de contato com o agente esterilizante influenciam na eficácia no processo de esterilização.
Quanto maior a quantidade de microorganismos presentes na superfície a ser esterilizada, maior o tempo necessário para eliminação dos mesmos. Por esse motivo é imprescindível que o material que será submetido ao processo de esterilização esteja livre de sujidades, ou seja, devidamente limpo.[3]
O biofilme, comprovadamente, dificulta a penetração do agente esterilizante. A limpeza adequada das tubulações internas das peças de mão representa um desafio para o processamento.A forma esporulada dos microorganismos dificulta a penetração dos agentes anti-microbianos e a utilização de métodos de desinfecção e esterilização não adequados, podem originar cepas resistentes.[3]
No Brasil a esterilização de canetas de alta rotação segue as recomendações de seus fabricantes, que por sua vez são normatizados pela NBR ISSO 7785-1 Associação Brasileira de Normas Técnicas(1999), de peças de mão odontológicas. A NBR ISSO 13402:1997 normatiza os instrumentos cirúrgicos e odontológicos determinando a resistência à esterilização em autoclave e à exposição térmica. O item 5, da norma “requisitos concernentes aos materiais de fabricação das peças de mão”, determina que todos os materiais usados na sua construção sejam adequados ao uso destinado e devem ser resistentes às operações de limpeza, desinfecção e esterilização, como indicado pelo fabricante.[3]
A descontaminação não significa que o material está seguro para utilização para a utilização no paciente uma vez que estes procedimentos compreendem desde a simples limpeza até processos de desinfecção e esterilização.[9].
O reprocessamento seguro da caneta de alta rotação apresenta-se como um dos grandes desafios para o controle de infecção na prática odontológica. Muitos obstáculos ainda devem ser superados, entre eles a resistência dos profissionais a adotarem essa prática.
Outro problema comumente relatado é que a esterilização pode danificar as canetas,encurtando sua vida útil. Fabricantes afirmam que se o preparo adequado e a lubrificação forem seguidos, as canetas suportarão em média 1.300 a 1500 ciclos de esterilização, antes da necessidade de reparo. Isso equaciona seis a oito meses de uso, se uma caneta for esterilizada oito vezes ao dia..
Processamento das canetas
Quanto as peças de mão, usadas em odontologia, o processamento deve seguir as orientações do fabricante pois as causas mais comuns de danos são provenientes de falhas ás recomendações. As etapas do processamento devem ser aplicadas, de modo a garantir um ótimo resultado final, que é um material esterilizado e seguro para ser utilizado.
A limpeza externa e interna é essencial para que isso aconteça. Se houver sujidade tenha certeza de que seu material, mesmo sendo autoclavado, não estará estéril. A esterilização das peças de mão entre pacientes representa segurança no atendimento e deve ser incorporada à prática clínica.[Manual ANVISA-2006].
Referencias Bibliográficas:
1.Cavalcante NJF, Pereira NA. Saúde ocupacional. In: Fernandes AT,Fernandes MOV, Ribeiro Filho N. Infecção hospitalar e suas interfaces na área da saúde.
2..Ministério da Saúde. Controle de infecções e a prática odontológica em tempos da AIDS. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2000. 118
3. 6.Graziano RW. Anti-sepsia na prática odontológica.In: Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar. Controle de Infecção na Prática Odontológica. São Paulo, 2000. p. 28.
4. 2.Cottone JÁ, Young JM. Dental Handpieces: Maintenance and Sterilization. In: Cottone JA, Terezhalmy GT, Molinari JA. Pratical infection control in dentistry. 2 ed. Philadelphia : WILLIANS & WILKINS; 1996. cap. 11, p.176-178
5.Bittencourt EI, Nohama P, Costa LM.D, De Souza HPHM. Avaliação da Contaminação das Canetas de Alta Rotação na Clínica Odontológica. REV ABO Nac . 2003; 11 (2): 92-98
6. 10.Manual da ANVISA-Serviços Odontológicos Prevenção e Controle de Risco, 2006
7.Graziano KU. Processos de Limpeza, desinfecção e esterilização dos artigos odonto-médico-hospitalares e cuidados com o ambiente em Centro Cirúrgico. in: Lacerda R. Controle de Infecção em Centro Cirúrgico. São Paulo; Atheneu 2000.
8.Centers for Diseases Control and Prevention –CDC. Guidelines for Infection in Dental Health Care Settings. MMWR Dez, 2003.
9. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISSO – 7785-1: Peças de mão odontológicas. Parte 1: Turbinas de ar de alta rotação, 1999(prioridade sobre as normas NBR IEC 601-1 e NBR ISSO 13402, 1997). Rio de Janeiro. 6p.
10. 1.Miller C, Sheldrake M. Sterilizing the internal lines of high speed dental handpieces. Transmission. 7th ed. Philadelphia : Lea & Febiger; 1992.
Texto elaborado por:
Prof.Angela Maria Aly Cecílio
Prof.Yara Yatiyo Yassuda
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